Este extraordinário pequeno livro resulta de um conjunto de notas atribuídas a Leonardo da Vinci – o chamado Codex Romanoff - e lança nova luz sobre a personalidade caleidoscópica do gigante do renascimento, um homem aparentemente inesgotável, que se interessou por uma variedade de assuntos tão vasta que várias vidas pareceriam necessárias para a abarcar.
Leonardo devotou um interesse muito particular pela alimentação, não tivesse ele sido criado por um padrasto pasteleiro e acabado por legar uma parte significativa da sua herança à sua cozinheira.
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Esta faceta mais desconhecida do respeitado génio atesta o seu amor pela vida e pelos prazeres da mesma. «Notas de cozinha» revela uma plêiade de episódios ao longo dos quais a existência do mestre se desenrolou e em que obras tão conhecidas como a «Última Ceia» ou «Mona Lisa» surgem como realizações acessórias e singelas consequências dos seus desaires gastronómicos.
De uma carta de recomendação de Leonardo da Vinci para si próprio, dirigida a Ludovico Sforza, Governador de Milão
«A minha excelência a construir pontes, fortificações e catapultas não admite comparações, e o mesmo se pode dizer de muitos outros aparelhos secretos, que não ouso descrever nesta carta. A minha pintura e a minha escultura são superiores às de qualquer outro artista. Sou superlativo a contar anedotas e a meter-me em sarilhos. E faço bolos verdadeiramente inigualáveis.»

Máquina de esmagar alhos, ainda hoje designada nas cozinhas italianas como «o Leonardo»
Maçapão, gelatina e nouvelle cuisine
A culinária interessou de tal forma Leonardo que muitas das maquetas dos artefactos de guerra por si inventados foram construídas em maçapão e gelatina e acabaram deglutidas pelos convivas de quem as encomendara, enquanto outros tantos dos seus engenhos bélicos principiaram por não ser mais que máquinas destinadas a poupar tempo e energia na cozinha, como o cortador de agriões que ceifou a vida a seis membros do pessoal de cozinha e três jardineiros e veio a ser usado com grande eficácia contra as tropas invasoras francesas.
A paixão de Leonardo pela cozinha revelou-se igualmente num interesse maníaco pelos alimentos, forma de os preparar e apresentar, tendo Leonardo desbaratado a clientela das tavernas para as quais trabalhou por ter ousado apresentar pratos de refinada apresentação e escasso valor calórico, que fazem dele o precursor da nouvelle cuisine.
Por dentro do livro
«Notas de cozinha de Leonardo da Vinci» começa por apresentar uma «Nota introdutória» pelo Doutor Marino Albinesi, promotor de justiça em Roma e presidente do «Circolo Enogastronomico d’Italia», seguindo-se-lhe «Leonardo da Vinci na cozinha – um esboço da sua “Vida Gastronómica”», pelos autores, Shelagh e Jonathan Routh. A estes textos introdutórios, de grande interesse e prazerosa leitura, seguem-se as «Notas de cozinha» propriamente ditas.
Receitas, apontamentos relativos à etiqueta e boas maneiras e as mais díspares considerações, acompanhados de inúmeras reproduções dos desenhos de projectos de Leonardo, tais como as ilustrações das várias formas de dobrar guardanapos, do assador automático, de moinhos de pimentas ou do cortador de ovos em rodelas, fazem deste livro um precioso e ao mesmo tempo supremamente divertido documento, sob o ponto de vista do conhecimento acerca de Leonardo da Vinci e da história da gastronomia.

Ementa ilustrada projectado por Leonardo e Botticelli para a sua trattoria