Lua de sangue é um livro e ao mesmo tempo vários livros, porque são várias as vozes nele invocadas para desvelar aos olhos do leitor as diferentes formas e máscaras da identidade e da passagem do tempo. Através de cinco Cadernos e com distintos registos formais, o universo da sua autora, atravessado de intensidade lírica, reflete em verso ou em prosa sobre os limites do sofrimento e do amor, sobre geografias reais ou da alma, sobre a música e a escrita como revelações da Beleza que nos reconcilia com a vida. Este é, nesse sentido, um livro sagrado e uma catarse, uma porta aberta para o espetáculo sempre delicado e fascinante da intimidade.
“Escrever é uma maneira de não deixar a vida passar em branco”, escreve Ana Telles nestas páginas, que são o testemunho de que a literatura é outra forma possível de explicar e explicar-se o mundo, que começa exatamente no mais profundo recanto de nós próprios.
Antonio Sáez Delgado

Fenómeno raro e efémero
Lua de sangue é um fenómeno raro e efémero, um jogo de luz, sombra e reflexo, tal como cada existência humana. Este livro é feito de fragmentos de um desses percursos: o meu…
A lua, catalisador poético, terra prometida e farol dos sonhadores, convida à observação e à contemplação. São essas as lentes através das quais tenho olhado a vida, na sua dupla dimensão de dádiva e de conquista, tendo daí surgido os textos que se seguem, página após página…
Por outro lado, o sangue é metáfora de sofrimento – simbolizando o dano do corpo e a desconstrução (pelo menos temporária) do ser –, mas também de vitalidade, no seu pulsar seguro, regular e inexorável. Ambos enformam o que aqui se dá à estampa, tanto quanto a “coloração sanguínea” de um certo olhar, que tingiu o meu de incrédula perplexidade…
Este livro encerra interrogações, contradições e algumas epifanias, documentando, passo a passo, a minha busca de sentido nas múltiplas experiências que me tem sido dado viver.
Dedico-o a todas as pessoas e circunstâncias que têm feito parte desse percurso, caminhando comigo ou, pelo contrário, dificultando-me o progresso. O que tenho aprendido, com umas e outras, perpassa das linhas que se seguem, que sem isso talvez não existissem…
Ana Telles